quinta-feira, 8 de outubro de 2009

FORUM SOCIAL MUNDIAL - FSM




CARTA CONVITE


Prezados Companheiros,
Prezadas Companheiras,

No último dia 18 de setembro, coroando um processo de reuniões e articulações, foi criado o Comitê Baiano do FSM que logo que nasceu se colocou uma formidável tarefa: a de organizar em Salvador da Bahia, Brasil, entre os dias 29 e 31 de janeiro de 2010, um Fórum Social Mundial, de caráter temático, inédito não só no estado, mas na região Nordeste do país.

Os motivos da realização desse magno evento saltam aos olhos. Não fossem as precariedades da população da região, que colocam conhecidas dificuldades de comparecimento, em número expressivo, ao evento a ser realizado em Porto Alegre pouco antes, a concepção do FSMT e as particularidades da nossa região fazem com que possa dar uma contribuição marcante entre os fóruns já efetivados, a saber:

(a) Inserimos em sua estratégia a prioridade da atenção a África e a parte latino-americana do continente;

b) Entre os planos de dialogo estabelecidos se encontra a colocação frente a frente dos chefes de Estado da África e latino-americanos, assim como da sociedade civil e desses altos mandatários, a partir de questões temáticas;

c) Aproveitando a rica diversidade cultural existente na região pretendemos estabelecer o mais amplo e mais profícuo dialogo cultural já existente em FSMs;

Tem sido expressiva a presença do movimento social da região nas articulações do FSMT-Bahia. Entidades de base, Ongs, organizações de diversos tipos e objetivos, integrantes da sociedade civil organizada, assim como os apoios governamentais que tem sido expresso, mostrando consciência de que o FSMT de Salvador pode vir a contribuir para elevar o nível de articulação e visibilidade às demandas sociais da região, somando esforços com o combate dos efeitos locais da chamada globalização que aqui tem especificidades importantes.

A região Nordeste, apesar de ser uma das mais pobres do país, possui centros urbanos em condições de sediar o FSMT. Um desses centros, os quais nos fixam para a realização do FSMT é Salvador, a capital do estado da Bahia, estado que registra cerca de 35% da atividade industrial entre os nove estados da região e conta com uma população de 2.850.000 habitantes.

A cidade tem importância geográfica e estratégica. Localizada na parte superior do litoral brasileiro situa-se em frente da África e a meio caminho da Amazônia e do Caribe. Essa situação tem sido marcante em sua trajetória, fazendo com que a constituíssem durante dois séculos como capital administrativa, política e religiosa do país quando da conquista portuguesa do Brasil e, mesmo quando foi transferida a capital em 1763, por razões econômicas e militares, a Corte de D. João transferida para o país em 1808, a escolhesse para acolher primeiramente a sua presença sendo aqui assinado o decreto de abertura dos portos às nações amigas que se constituiu em um dos marcos do monopólio estrangeiro sobre o comércio no continente. Sua vantajosa posição em relação à África negra contribuiria para que viessem escravizados uma maioria expressiva de sua população, se constitui na maior cidade africana fora daquele continente para constituir, em suas cercanias, parte importante do sistema agrícola açucareiro que sustentou boa parte da colonização do país. Possuindo um porto que já foi o segundo maior das Américas, um ativo aeroporto internacional, e uma malha rodoviária diversificada, apresenta evidentes facilidades no deslocamento de pessoas, da região, do Brasil e do mundo para o FSMT.

Salvador, entretanto não se notabiliza apenas pela trajetória econômica e pelo privilégio de suas instituições políticas. Suas ruas guardam recordações perenes das aventuras de uma cidade rebelde. O barulho atual da Rua da Forca, da Praça da Piedade, e do Campo da Pólvora, entre outras, não esconde os martírios ali perpetrados. Nem o Forte do Barbalho, da Casa de Câmara e Cadeia, do Aljube, do Forte São Marcelo, entre outros quartéis militares, navios-prisão e cadeias ainda existentes ou extintas, podem ignorar o sofrimento dos que foram ali encarcerados por delito de opinião.

A cidade apresentou no que viria a ser seu território dezenas de núcleos populacionais de povos originais séculos antes da conquista européia. Com uma tradição de resistência à opressão Salvador presenciou lutas memoráveis, sendo que algumas delas se notabilizaram mundialmente e jogaram papel decisivo na trajetória do país. Foi assim que a sua conquista e de seu hinterlanddemandou pelo menos dois séculos para se efetivar contra a formidável resistência dos originais. Que diversos segmentos urbanos se revoltaram contra a Metrópole e seus governantes. Que a cidade foi palco da Conjuração baiana de 1798, a única do período a contar com forte presença social dos “de baixo”. Que se constituiu como elemento decisivo na guerra civil revolucionária de 1822/1823 que levaria à separação do Brasil de Portugal. Que, após este feito, diversos segmentos sociais se insubordinariam buscando garantir as promessas da independência, na luta contra o nascente Estado Nacional excludente e pela instituição do federalismo.

Aqui se realizaria nas primeiras décadas dos anos oitocentos o chamado ciclo de revoltas dos escravizados, que culminaria na chamada Revolta dos Malês em 1835, a maior insurreição urbana de escravizados desta parte do continente. Os soteropolitanos

Protagonizariam ainda, em 1837, a maior insurreição de sua história, a formidável “Sabinada”, onde os insurrectos tomaram posse da cidade durante vários meses só sendo derrotados pelo envio de tropas federais e estaduais, com o bombardeio da cidade o massacre de cerca de dez mil pessoas e a queima dos oficiais negros em fogueiras.

Suas lutas ultrapassaram a Colônia e o Império. Há mais de cem anos seus estudantes e trabalhadores se engajam em prol de lutas democráticas, trabalhistas e libertárias, as quais essa Carta-convite seria insuficientes para contar. É pródiga a presença de seus filhos na Greve Geral de 1919, a primeira do Brasil, na resistência contra os coronéis, nas trincheiras da revolução de 1930, contra as ditaduras do Estado Novo e a que se estabeleceu entre 1964 e 1985, nos ciclos de greves dos anos 1940, 1960 e 1980.

A chamada Era “Republicana” registra um sem fim de manifestações de inconformidade no território da capital do estado das quais estiveram presentes os soteropolitanos. Que diriam as que reivindicaram o fim da Segunda Grande Guerra, as Diretas Já, o Fora Collor, o Basta de Sarney, e a que exigiu a retirada das tropas norte-americanas do Iraque.

Os elementos aqui elencados, e os apoios que dispomos, permitem que possamos convidá-los para participar de um grande evento, o FSMT, projetado para adequar as suas dimensões conceituais, à riqueza política, cultural, social, histórica, religiosa, arquitetônica, e com uma gastronomia das mais ricas do planeta, com a recepção de um povo hospitaleiro que, mesmo sofrendo na pele todas as carências econômicas, as injustiças e discriminações, não perde a alegria e a afetividade de receber seus visitantes.

Se outro mundo é possível, certamente o modo de vida popular de Salvador da Bahia e da região Nordeste terá que ser plasmada nesse novo mundo!

Informamos aos companheiros/as que no dia 17/10/2009 estaremos realizando a segunda plenária de construção do FSMT-BA e que estas plenárias ocorrerão até o mês de janeiro,como forma democrática de participação dos Movimentos Sociais e Sociedade Civil,esperamos que sua organização some na construção onde um outro mundo é possível.

Salvador, 06 de outubro de 2009.

Comitê Baiano do FSM formado pelas seguintes organizações:

ABONG – Associação Brasileira de ONGs
MST/Via Campesina – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
UNE – União Nacional da Juventude
FNMN – Frente Nacional de Mulheres Negras
Dialogo e diversidade LGBT/Brasil
ABCMI – Associação Brasileira de Clubes da Melhor Idade
CUT – Central Única dos Trabalhadores
CTB – Confederação dos Trabalhadores Brasileiros
FS - Força Sindical
UGT – União Geral dos Trabalhadores
AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras
UBES – União Brasileira de Estudantes Secundaristas
UNEGRO – União dos Negros pela Igualdade
CESE – Centro Ecumênico de Serviço
ABONG - NE
GRUPO OMI ODE

Apoiadores:

Fórum Mundial des Alternatives Memoire des Lutes
IPS Fórum Crise & Oportunidades
Memória Lélia Gonzalez

Telefones para Contato
Susete- 9998-8058/ 8783-0022
Franklin – 9946-2868
Auresi – 8887 -7639


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