EM DEFESA DO SERVIÇO CIVIL.
Se existe algo que deve morrer de velhice no Brasil é o serviço militar obrigatório. Para que fingir que continua ser necessário forçar rapazes acima de 18 anos a se alistar no Exército? Em vez do serviço militar, rapazes e moças deveriam dedicar um ano de suas vidas para servir à comunidade. Os filhos da classe média e da elite aprenderiam mais sobre o Brasil real se entrassem no mundo das crianças que nascem com pouco ou quase nada. Se fossem convocados a compartilhar o que sabem com o rodapé da pirâmide social.
Pela lei atual, até o brasileiro que mora fora do país é obrigado a se alistar. Claro que há muitos jeitinhos para evitar os doze meses no quartel. Só se ingressa no exército hoje quem deseja seguir carreira nas Forças Armadas ou quem precisa ganhar um salário mínimo como recruta. Os universitários costumam conseguir dispensa. Muitos se formam sem ter a menor idéia de como se equilibra na linha da pobreza a massa de Brasileiros.
É impressionante como a sociedade brasileira não oferece oportunidades de convivência entre cidadãos de diferentes camadas socioeconômicas. A sociedade vem se transformando em uma ilusão onde as pessoas se esbarram apenas. Há um apartheid social entre ricos e pobres.
Poucos jovens carentes chegam às concorridas universidades públicas gratuitas, e as particulares são proibitivamente caras. Recentemente assisti a uma entrevista de um ex. professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) por 16 anos. A cada ano ele se perguntava de onde vinham seus alunos: “só tive dois que haviam estudado em colégio público municipal, embora a rede municipal do Rio tenha mais de 800 mil alunos”. Disse ele.
Nas grandes cidades, a cultura dos condomínios cria uma juventude que se apega a privilégios e costuma sentir medo ou desprezo por pobres. Jovens de classe média alta só trabalham como garçons, garçonetes, babás ou domésticas quando vão para o exterior fazer intercâmbio. Os pais mandam pimpolhos para os Estados Unidos, Europa... Vão estudar idiomas e, muitas vezes lavar pratos. Faz parte do aprendizado de vida e do amadurecimento. No Brasil jamais fariam isso, e não só por vergonha de servir aos seus iguais, mas a mesada tropical é polpuda e o que se ganha aqui nesse tipo de serviço é muito menos do que lá fora. Além disso, no Brasil eles têm domésticas que recolhem suas roupas espalhadas pelo chão.
O Serviço Civil obrigatório seria uma oportunidade de integração, educação, disciplina. Não existe no Brasil nenhuma alternativa real que promova o entendimento entre as classes, não se treinam o ouvido nem a compaixão, o desprendimento ou a generosidade. Jovens deveriam consagrar um tempo para o bem público, por lei, para criar bases e valores, perceber outros olhares. Por que não um estudante de Direito, no primeiro ano de faculdade, dedicar quatro horas diárias de trabalho a um balcão de atendimento de pequenas causas em favela? O estudante de Ciências Contábeis orientar famílias em pequenos empreendimentos? O estudante de Letras incentivar adolescentes a ler? São tantos universitários financiados pelo povo brasileiro. Porque não retribuir a sociedade durante um ano?
O presidente Lula chegou a propor, em setembro de 2008, o Serviço Social Obrigatório para homens dispensados do serviço militar e para todas as mulheres brasileiras. Eles prestariam à sociedade serviços relacionados a sua formação técnica, profissional ou acadêmica. Foi engavetado.
Minha sensação é que se desperdiça o potencial de um exército de jovens inteligentes e criativos que poderiam ajudar a construir uma sociedade mais justa e menos desigual. Enquanto isso eles ficam sonhando em sair do Brasil sem sequer chegar a entender o país em que nasceram. Nem aprendem a dar bom dia ou agradecer por um serviço prestado.
Deveríamos acabar com a obrigatoriedade do serviço militar, que tem um século de vida. É um anacronismo num país de tradição e cultura pacifista. O que o Brasil necessita é educar direito seus filhos.
WELLINGTON SILVEIRA
Secretário de Juventude
PSB-MG
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